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Dos tempos de outros tempos

 
Eram tempos difíceis que o próprio tempo se encarregou de trancar a sete chaves nos calabouços do esquecimento para que dele não mais se ouvisse falar. Contudo, não havia como calar as memórias dos que dele sabiam e o que sabiam não era pouco...
Naquele tempo, Lisboa ficava a 18 dias palmilhados e bem contados pelas contas de um primo direito da minha avó Ermelinda que vivia na Panasqueira, que nem terra chegava a ser. Duas ou três casas no meio de uma fazenda era tudo o que havia para além da falta de dinheiro que o levaram a meter os pés ao caminho em busca do metal que tanta falta lhe fazia, visto que os carros eram coisa de ricos e o custo do bilhete do comboio que partia de Coimbra, não era coisa pouca.
A tia Albertina também por lá viveu meia dúzia de anos num vão de escada por onde cambulhavam inquilinos a todas as horas do dia. A trote, escada a baixo escada acima, mas que a não impediam de dormir até ao meio dia, depois de já se ter ido aviar de manhãzinha, de um quarto de litro de leite e dois papo-secos na padaria, para acompanhar o café da desjejua. Era mais ou menos por essa hora que o companheiro, que era bombeiro, também chegava por causa do almoço. Mas do almoço nem o cheiro... nada que uma carga de porrada na preguiçosa, que, estremunhada, já nem sentia pelo hábito a que se acostumara. O bombeiro, resignado, não tinha outro remédio,se não o de meter a panela ao lume e em poucos minutos as batatas lá se coziam. Parece que a cena se repetia seis dias por semana visto que ao Domingo era para descanso...
Certo dia o bombeiro não voltou para o cubículo e à mulher nunca mais nenhum homem tocou nem com um dedo, pois que não estava mais para isso e o copito da aguardente no café até ajudava ao sono!


Cleo (Lurdes Dias)


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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