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Diario de bordo a bordo - II

 
Terça-feira, XXIV / I
O estomago em pandareco. Domingo misturei cerveja com cachaça. Fiquei tri louco devo ter feito muita merda e ainda perdi a minha touca.É mole?
Aos poucos vou me recuperando dessa ressaca monstruosa e dos vacilos que cometi. Lembro-me vagamente ter bebido umas doses de cachaça fiado sentado na calçada conversando com Seu Cardozo. Não sei quem emprestou-me dinheiro. Ontem para minha agradável surpresa achei sete real debaixo do travesseiro. Primeiro foi uma cédula de dois e depois de alguns minutos encontrei a de cinco. Imediatamente fui comprar uma capsula de Xatinon e uma garrafinha de água mineral com gás. estava ruim de mais, rolava de uma lado para outro, um mal estar estomacal. Tenho que criar vergonha e dar um tempo nessa bebida em futuro, estou perdendo o pouco controle que ainda possuía. O pior é que o diabo da amnesia ocorre e não sei o que fiz, se insultei alguém ou falei algo que não devia. Apago por completo. MIzico,o factotum de professor voltou com o camarão que ele mandou. Minha cunhada lamentando e brigando com todos, desabafando as suas magoas e raivas:
- Vambora é para lavar o cabelo - grita para as assustadas meninas - Eu ia comprar a mesa, mas agora não vou comprar porra nenhuma. São umas pessoas que não ligam para nada. Quando pegam uma mincharia correm direto para beber. Tudo esculhambado e eles não estão nem ai. A casa toda estiorada, a caixa d'agua no chão, as tabuas apodreceram. E bom vai ser quando a Caema vier cortar a agua que será lá no meio da rua, ai quero ver. - Uma pausa para respirar - Droga de cachaça infeliz, na hora que eu me danar não vou fazer porra nenhuma. Esse (eu) não tá bebendo porque gastou o dinheiro todo e agora tá liso. Que tentação do inferno. - Essa ladainha é todo dia, nada a agrada, no fundo ela não deixa de ter uma certa razão. Realmente somos muitos irresponsáveis. Eu não faço por que não tenho condição - mas o pouco que ganho divido com a despesa - mas ela quer tudo. - Para de molecagem, come, tem de comer em silencio - Admoesta as irrequietas meninas que almoçam sentadas a mesa do jantar.
Um leve chuvisco para minorar o calor. A chuva recrudesceu. Minha cunhada explode com a algazarra das meninas e nervosa com os trovões e relâmpagos. Semana passada, uma senhora do mercado morreu de susto ao ouvir e ver o clarão do relâmpago no quintal dela. Morte súbita.
Professor chega calmamente ébrio e um pouco molhado, entra devagar a cadela dele contente late do quarto..
- Larissa desligas televisão e bota o o comer do teu pai - ordena - Não manda mais camarão encascado, pensa que os outros não tem o que fazer . Tanta coisa para fazer e tu sabes que tu que tens de mandar fazer, todo mundo espera só por ti. A caixa d'agua esta para rachar e ninguém estar ligando. estou vivendo que nem porco somente para comer..
Larissinha serve silenciosamente o pai na cabeceira da mesa com uma falsa paciência.
- Esquenta o feijão - pede para a filhota - Eles não trouxeram o refrigerante? - pergunta duas vezes..
- Teus secretários trouxeram apenas a sacola de mangas ea de camarão.

Tudo silencio, apenas o chuvisco caindo no telhado, o trovões ao longe a a batida da colher professor no prato. As meninas murmuram nas exígua sala de visita as escuras e a porta fechada. Li algumas paginas de "Serafitus" do mestre Balzac e "O amor de Swan" de Proust que foi contemporâneo de James Joyce em Paris nos anos 20. O irlandês parecia não o admirar muito. Relendo as ultimas paginas de "Crime e Castigo" que o filho dele (Joyce) achava o máximo e o seu autor o maior de todos - mas Joyce não encontrava nenhum mérito nem no romance e nem ao autor. Para mim, um simples mortal apaixonado pela literatura, Dostoiévski é superior. Eu sou seu fã de carteirinha. Leio e releio sempre os livros deles que possuo, os melhores e mais significativos

Estou vivendo uma daquelas crises onde tudo é ruim e sem graça. Num abismo, cercado por paredões, somente caindo e esperando a qualquer momento uma evento negativo, tristes noticias. Esse grode de domingo mexeu profundamente com todo o meu frágil psico, destruí as minhas parcas defesas, não sei quanto tempo vai perdurar essa situação. Fecho os olhos e imagino coisas tristes e sem sentido. Ainda pouco cochilando tive sonhos surreais que me deprimem. Lendo na internet "Raizes" de Alex Harley. A alegria de ouvir na novela das seis a canção do conterrâneo Zeca Baleiro. Fico feliz com o seu sucesso nacional. Quem sabe um dia também não tenho os meus méritos reconhecidos. Tudo que tenho a fazer é preservar, não desisti - escrever, escrever e escrever sem cessar, dia e noite, sem ligar para as criticas negativas, elas são boas para cair na realidade. Colocar essa preguiçosa mente para funcionar.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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