Poemas : 

Noturno 6.2

 
Na noite que brilha as estrelas, imprimo o verso em folhas secas
Sento-me à sombra de dez mil segredos que o vento lírico almeja
Em horas tranquilas afogadas no esquecimento acetinado e azul
Tenho sede do vinho que refresca a mente e que realça as ilusões

Eu muito andei pelas veredas da vida, vezes contra a correnteza
Uma noite no limbo de um beijo apressado sob os ventos do sul
Outra a repousar em um colo sereno ao fim da longa caminhada
Sei que tudo muda no fio do tempo e se incorpora noutro espaço

O amor pode vir do pecado, penetrante como lâmina de frio aço
E tudo desaba retumbante em pedaços na primeva luz da manhã
Mas pode vir do coração na resposta contundente a toda dúvida
Que sempre insiste em atear chama à vela e põe fim ao labirinto

Quem aspira ao amor, que não se cegue, deve saber que há a cruz
Leda, levianamente, pois a vida não corre só ao som dos violinos
Sempre chega a hora da partida e o silêncio preenche os espaços
Haverá que se perdoar fatos havidos nos idos dias tempestuosos

Amar é ter o fogo que nasce depois dos pontos finais das ilusões
Quantos passos já caminhei em espaços ausentes dessa presença
Quantas auroras incipientes, quantas noites estéreis e solitárias
Receei um dia a mágoa fosse escrever um poema frio e sem rosto

Mas urge se reinventar para habitar o corpo amado com ternura
Deixar as incertezas se perderem na distância, meio à névoa fria
Celebrar o segredo contido nos suspiros da respiração apertada
E ser uno, íntegro e intenso, para a emoção irromper em mil cores

Se o amor é dor, mais é luz, lembre-se nem toda flor tem espinho


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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