Poemas : 

Amarga despedida

 
Foi tua ausência cotidiana que me deu os espaços onde escrevo
A sala vazia noite afora, o abajur sobre a mesa a iluminar o papel
Eu que queria te mostrar as estrelas, o céu coalhado de estrelas
Não te deixarei nenhum poema para que guardes ordinariamente
Entre as roupas íntimas, na última gaveta do armário da memória
Para exibires a inúteis convivas, como se meu verso fosse troféu

O que, porventura, te escrevi, partirá com a brisa da madrugada
Os quadros que te pintei, já se resumiram a uma natureza morta
Uma lembrança jamais te deixará: a percepção que a vida existia
E doerá em ti, mas não quero tua volta, o abandono eu sobrevivi
Pela noite imensa, sem teu perfume barato e teu uísque nacional
Aprendi a navegar por mares revoltosos entre o pânico e o amor

O som da minha voz era para tua voz, não para tua língua ferina
Logo chegará a manhã, para trazer silêncio, calar enfim tua voz
Também reaver as estrelas dos ocasos destes poemas descalços
Quero dizer que a tristeza que me destes foi transitória e fugaz
Não o amor que vivi à tua revelia, secretamente, em meu íntimo
Que teu desamor morreu no último amanhecer, na última aurora


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
Data
Leituras
868
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
4 pontos
2
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/06/2021 19:29  Atualizado: 29/06/2021 19:29
 Re: Amarga despedida
Alguns versos são tão fortes que as letras viraram setas e atingiu meu coração.