Dorme a noite no colo da alvorada,
Sossegada a morte ao colo da vida,
Da vida que quebra o tom da cantada,
Canto da morte (que é vida sofrida).
Quem não tiver uma dor ignorada,
Cultivada e pelo peito parida,
Só juntará letras, não lerá nada
Desta poesia, que é força em ferida.
Desta e doutras e de todas no mundo;
Ser poeta é dar braços à dor e à musa,
E no coração mergulhar profundo…
E no breu suplicar à luz, que luza!
Para que o negrume às vezes iracundo,
Implore à madrugada que o seduza.
26 de Outubro de 1995