Contos : 

Mercearia "Fialho"

 
Maurício Fialho tinha herdado a mercearia de seu pai, abria todos os dias às 7h da manhã e fechava as potas às 21h. a mercearia "Fialho" era mais do que um café, mais do que uma casa de pasto, mais do que um hipermercado, era a mercearia do Maurício e isso chegava para fazer dela o mais movimentado estabelecimento público. as calças ficavam-lhe sempre grandes e largas mas isso não era problema, Maurício casara com a Helena costureira e era ele que lhe arranjava as calças, com as calças sempre ao fundo do cu Maurício passeava-se na mercearia de um lado para o outro trocando, todos os dias, o lugar dos produtos. era conhecido na aldeia como o fialho mais traquina, desde novo, talvez porque era o mais magro de todos os seus irmãos e aquele que melhor corpo tinha para passarinhar de um lado para o outro e dançar com esta e com aquela nas festas populares, os seus dois irmão, Francisco Fialho e Jacinto Fialho sofriam de obesidade mórbida e passavam o dia alapados ao fundo da mercearia a "pesar figos". a tv da mercearia estava sempre ligada na SIC, desde que conseguiram apanhar a SIC nunca mais mudaram a estação, às vezes Maurício virava a antena para conseguirem ver o futebol na estação pública mas no final voltava a virá-la para conseguir apanhar a SIC.
O espaço da mercearia é pequeno, 40 metros quadrados, as paredes repletas de prateleiras pequeninas encavalitadas umas em cima das outras, lotadas de toda espécie de produtos que se possam imaginar, no chão caixas de fruta e de legumes faziam com que houvesse pouco espaço onde pôr os pés, no entanto havia um lugar onde o espaço reinava, ao fundo da mercearia, onde os dois irmãos gordos descansavam alapados em cadeiras almofadadas, ali repousava uma mesa de quatro lugares, quatro cadeiras (sem contar com as outras duas que estavam sempre ocupadas pelos rabos gordos dos irmãos de Maurício), ao lado encontrava-se selado com um cadeado um frigorífico que só era aberto depois das 19h ou em raras excepções como nos jogos de futebol ou nas festas da aldeia, era um frigorífico cheio de toda a espécie de bebidas e era Maurício que guardava religiosamente as chaves no bolso do colete.
Maurício Fialho nunca saía da aldeia, eram os fornecedores que lhe traziam todos os produtos, uma vez por outra esqueciam-se e ele lá tinha de pegar no telefone mas na maior parte das vezes o contacto com eles era meramente pessoal. ao fim da tarde a mercearia Fialho enchia com pessoal a fazer apostas em jogadores de sueca, era dali que Maurício tirava a maior parte dos lucros, afinal a aldeia era pequena e com os bolsos apertados poucas pessoas lá iam depois das compras ao fim do mês. os jogos de sueca da mercearia Fialho eram mais falados do que a aldeia inteira e muitos eram os que de fora vinham para apostar, as bebedeiras eram o pai-nosso de cada dia mas se assim não fosse as apostas não faziam sentido.
Maurício Fialho tinha herdado a mercearia de seu pai mas nunca a mercearia tinha visto tanto rodopio, tanta correria.


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
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