Poemas : 

manobra de heimlich

 
era o ocaso das vinhas
quando deixei de o escutar
paramentou a minha pele
um desapego terno
cor de malvasia
e com palavras de desmando
comedido
coroado de porcelana
atendi antes ao perfume das colmeias
e ao destino das fadas
se chorei
foi como o dobrar de uma campânula
vi vivi vir virginal

a nave central destes socalcos
insiste no amor que move o sol
e as mais estrelas

que por pudor não deveria recordar
mas sempre foi assim
o abraço que me salva
é o mesmo
que por causa daquelas rugas
das minhas
me asfixia

 
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benjamin
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Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 01/11/2021 10:31  Atualizado: 01/11/2021 10:31
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
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 Re: manobra de heimlich
De ficar sem respiração. gostei da leitura.

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 02/12/2023 11:09  Atualizado: 02/12/2023 11:09
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3597
 Re: manobra de heimlich/benjamin
olá benjamin

porque será que esta manobra é me tão familiar?? (rsrsrs)

poesia de respirar como as vias respiratórias livres, sem engasgamentos, sem asfixia, apesar de algo triste, tem também, acho, uma bela vivência.

beijo

atenciosamente
HC


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 07/12/2023 18:41  Atualizado: 07/12/2023 18:49
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
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 Re: manobra de heimlich
Henry Heimlich morreu no ano de 2016 em dezembro.
Apenas em maio, aos 93 anos, usou a "manobra" que idealizou para salvar uma idosa num lar, salvo erro, por fonte da wikipédia.
Se ele adivinhasse que ia ser poema...

O ocaso do quê? Penso no início quando ando pelas vinhas, lá para novembro? Pós-vindima, arranhando uma idade lá para o meio?
Pois. Surgem as questões logo no primeiro verso.

"Paramentou a minha pele/um desapego terno" - que beleza, permitam-me.
O verbo invulgar do primeiro verso intriga e a contradição ideológica, num sentimento desligado que associado a ternura se anula (no segundo verso).
" atendi antes ao perfume das abelhas/ e ao destino das fadas", aqui encontro a escolha por interesses igualmente efémeros, fantásticos, ao que tinha anteriormente.

Mas o quê? Crescendo no leitor as hipóteses, enquanto é brindado com imagens duma riqueza simples (como pode ser isso complexo!).
O último verso da primeira estrofe, intuitivamente submete-me para o título, sendo que o tropeço no "vi vivi vir virginal" assemelha-se-me a um gaguejo, quiçá um engasgo além de ser uma óbvia aliteração.

Na segunda estrofe começa o sujeito poético a colocar o leitor, novamente no local das confusões. Porque voltamos ao socalcos das vinhas iniciais, mas dentro duma catedral, porque, além da nave central, pressupoe-se que terá outras...
e eu pessoalmente encontro o amor.
Lamechas.

Das estrelas e dos adornos e dos perfumes e das flores e...
"que eu por pudor não deveria recordar"
O pudor dos, NUNCA MAIS!... mas que nos (permite-me o plural) acomete, inevitavelmente.

Terminas muito bem.
Novamente com o sr. Heimlich, brincado com a "...asfixia..." a que o sujeito poético se assujeita, apesar das "...rugas...", apesar da experiência...

Há sempre uma gaja qualquer... detrás, que fixa a mão direita no punho esquerdo, rente ao diafragma e faz aquela dor desconfortável da
reanimação.

Claro que pode ser, também, um gajo, dependendo de quem lê.

Há um claro timbre universal que torna todo este poema uma experiência individual memorável.

Obrigado.


Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 08/12/2023 08:53  Atualizado: 08/12/2023 08:53
Usuário desde: 28/09/2009
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Mensagens: 889
 Re: manobra de heimlich
Olá,
gostei muito do poema.
Abraço.