Poemas : 

Gênese

 
A noite chega sorrateira e é sinal que a natureza dorme
Estará o querer perdido nas sombras e a plateia calada?
Será que um negro mar de melancolia lhe engoliu a fala?
Nessa geometria oculta do movimento, o poeta transita
Entre palavras. Nutre-se da negra teia que oculta o dia
Em sua mente, detrás da escrivaninha as ideias cintilam
Um retrato esmaecido é testemunha do tempo passado
Não lhe diz o nome, antes o espaço que um dia ocupou
Na sua vida. Qual fora o avesso silencioso d’um espelho
A imagem ora replicada foi o porquê de nascer a poesia
Tal qual ela completasse, como um duplo, a própria vida
O poeta nasceu da dor para opor-se à sua continuidade
P’ra oferecer luz em negação às sombras, ação à inércia
E o que era carvão, traçado no papel far-se-á esperança
Condensada dos pensamentos que um dia foram aflição
E o poema ocupará o espaço onde antes era só o vácuo
Onde havia ondas de delírio como ampliador da ausência
Onde a angústia já reinou, vindo negar a dor e o silêncio
Escrever é a ponte que unirá as margens sobre o abismo


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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