Poemas : 

Poemicídio

 
Poemicídio
 
Separo esse sofrer do meu espírito
Preparo os nutrientes desta planta
Assopro e no sussurro em meu delírio
Percebo o mal em mim que se agiganta.

Reparo e quando eu paro e não reflito
Na construção do nosso Criador
Na imensidão do vasto infinito
No grito do silêncio sucessor
Hera que reverbera pela terra
Erra, mas não flutua numa flor

Eu grito e o meu grito eu omito
E vou seguindo o rito que me apraz
Mas um tecer mentiras e o seu tecido
Afasta o meu sossego e minha paz.
E o despertar intrigas geram iras,
Que ao sumo sacerdote satisfaz.

Ó, Luz que guia o mundo e o universo!
Ó, Sol que aquenta a vida e gera o homem!
Percebam nos retalhos destes versos
Os cacos de costuras que consomem!

Na existência breve que pressente
Na superfície áspera de tudo
Que o grito do meu grito fica mudo
Futuro do passado em meu presente .

E a dor que move o ser na despedida
Longe de casa, do torrão natal
Disperso em continentes, preso em ilhas
Despido de veleiro em vendaval.

Eu rasgo o verso, o ventre e o sistema.
Roço a pelúcia e queimo a mão na neve
Quem nega uma nesga ao sol merece
Morrer no último verso do poema.

Eu despertei do sono e no meu sonho
Eu procurei por ti no fim do ato.
E agora é neste verso que eu te ponho
Pois justamente agora é que eu te... Mato!








Gyl Ferrys

 
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Gyl
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Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 26/04/2023 13:53  Atualizado: 26/04/2023 13:53
Usuário desde: 28/07/2009
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 Re: Poemicídio
«Na existência breve que pressente
Na superfície áspera de tudo
Que o grito do meu grito fica mudo
Futuro do passado em meu presente .»

Que maravilha!


Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 26/04/2023 14:03  Atualizado: 26/04/2023 14:06
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Localidade: काठमाडौं (Nepal)
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 Re: Poemicídio
Eu bem poderia ter citado a mesma estrofe que Rosafogo o fez, vez que a apreciei muito. Como poderia ter citado qualquer outra - todas igualmente importantes à construção do todo.
Porém, da minha parte devo mencionar a última:

Eu despertei do sono e no meu sonho
Eu procurei por ti no fim do ato.
E agora é neste verso que eu te ponho
Pois justamente agora é que eu te... Mato!


Quantas vezes eu matei nos versos meus desafetos amorosos, porém nunca com tanta classe no último instante e clímax da poesia. Apreciei todo ele. Saudações.


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 26/04/2023 14:44  Atualizado: 26/04/2023 14:44
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 Re: Poemicídio
olá Gyl

vim de arrasto porque vi que rosafogo comentou, é alguém que muito considero,muito embora não o manifeste, "whatever". e dei também com o coment de Sergius .Mr quem aprecio. não tenho muito a acrescentar, mas e sempre um mas ou um mais.

data venia

atenciosamente
HC