Poemas : 

Permissão

 
"Desta Terra e deste estrume é que nasceu esta flor."(Memórias Póstumas De Brás Cubas- Machado de Assis)


Não nos permitimos.

Ficamos presos, encapsulados
Dentro de nós mesmos
Insensíveis ao nosso passado
Atacados pelos nossos medos
Apenas dois seres cansados
Jogados (de todo) de lado
Como velhos e quebrados brinquedos.

Não nos permitimos.

Permanecemos presos por paredes
Criadas num momento de desespero
Perpetuando nossas fraquezas,
Persistindo em antigos conceitos,
Deixando brincar nossos defeitos,
Remoendo possíveis segredos:

Numa expectativa danada
Numa distância pouca
Numa ânsia louca
Numa procura desesperada
De um beijo que não aconteceu
De um abraço que nunca se deu
De um sorriso que por muito pouco
Tempo existiu.

Não nos permitimos.

Sonhamos uma vida cor-de-rosa.
Resistimos. Adoecemos nossas almas.
Tínhamos os sorrisos amarelados.
A tudo tingimos de tons acinzentados.
Assistimos, exaustos, ao mesmo espetáculo.
Entorpecemos-nos de viver pouco a vida.
Deixamos na poeira dois corações murchos,
Devastados pela existência e saciados do coexistir.

Não aprendemos a técnica.
Erramos a fórmula da mágica.
Fechamos todas as portas
E cortinamos todas as janelas.
Não fomos à Bélgica
Ainda não enxugamos nossos olhos
E o suplício persiste em fazer morada
Nestes corpos sedentos de amor,
Porém, fartos dessa magia que é o viver.

Não nos permitimos
Perdemos-nos em crateras
Transformamos tudo em dor
Deixamos nascer uma triste primavera
Donde brotou uma rosa inócua,
Inodora, insípida e incolor.
" Desta terra e deste estrume
É que nasceu esta flor".

Não nos permitimos.
Por quê?






Gyl Ferrys

 
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Gyl
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