Tudo tem cor
se abrires os olhos
e escapares do cinza das horas.
Do negro da fé,
ao alvo dos começos.
A cada momento do olhar
oferece a atenção
do ver.
Vê.
Traga os contrastes quentes,
as indiferenças frias.
O ausente ar, a água transparente,
traz a tez do que tem.
Toca nos tons carregados e nos leves,
as cores breves,
as grandes.
Troca aquela que te vaza,
a que chamas de casa, pela que te repleta.
E escuta com os olhos que a terra
há-de comer
as sombras, os reflexos opacos,
que alimentam mistérios, e outras fomes.
A minha filha vê cores em todas as letras...
Tudo tem cor
se abrires os olhos
e escapares do cinza das horas.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.