Era uma vez um ser que me dizia,
Ser eu entre os seres o único ser;
O único escultor da sua alegria,
Ouvia eu com os olhos a tremer.
Cantava-me sempre que entardecia,
E tomava-lhe o corpo sem o ter,
Tão quente o calor que me arrefecia,
Não queima também o gelo e faz doer?
Nisto, era uma vez, tudo era uma vez,
Sobre mim caído o mundo por inteiro,
Nenhuma busca, nenhuma oração…
No último esgar de transe e lucidez,
Em que de ti, memória, me abeiro,
Vou partindo sem bem ter a noção.
16 de Outubro de 2010