Quem me ensinou esse jeito de andar?
deve ser coisa antiga, antes de falar.
Meu avô já sabia, o avô dele também:
Quando corpo comanda, o passo que vem.
Uma dança escrita na pele e no pé,
Falar sem palavras, o corpo a dizer.
Ajeito a postura, e acerto o chapéu
O sangue comanda, e você é meu céu
Igual bicho antigo, deixa ele fazer.
Ele sabe o caminho, tenho que aprender.
Igual bicho antigo, deixa ele falar.
Me solto, entrego, perco pra te achar.
Passo perto de leve, passando meu cheiro,
com levez e presença, um rastro ligeiro.
Se você me olhar, eu demoro a voltar —
O meu corpo assinou o que não sei jurar.
Sou mapa sem norte. Sou febre sem cura,
um tremor que começa antes da aventura.
Eu ensaio mil vezes, na hora que se vê,
O instinto decide. E ele aposta em você.
Seu olhar no meu, demora um pouco mais,
Teatro que diz: vem, que não finjo mais!
A noite avança, e a música se cala,
Quando a festa acaba é o corpo que fala.
Não foi charme, sorte, nem jogo de azar
Foi um bicho antigo querendo encontrar.
Esse bicho antigo que em mim foi viver.
Ele veio de longe, só pra te convencer.
Quando esse bicho vem, ele sabe o final:
Quando o som termina, nossa dança inicia
Quando a música acaba, é nosso sinal.
Quando a festa acaba, começa a fantasia
Souza Cruz