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suicidas declarados do amor …

 
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Ontem
tinha crostas nas costas e nas palmas das mãos
cerradas e as arvores nuas esvoaçam ramos.
Galhos golpeavam planos
em varejo constante em meu olhar...
[chorava]

Ontem a pele,
a pélvica, a dos seios,
a das pernas, a do sexo ali ao fundo da barriga,
a da alma, escorria em sangue chagada e ferida.
[flagelada, tão, mas tão dorida…]

Ontem
o vento lá fora em fustigo,
em brados sistémicos d’inclemência e de terror,
e nós aqui, amado,
enlaços,
fundidos,
moldados ao barro de um instante
“amigos-íntimos”, “quase amantes”,
náuticos mareantes de rios de pedra, no ardor
de sóis, (e)ternos refúgios, cais d’abrigo …

e risos(tantos), risos ternos de crianças…
e logo prantos, suicidas declarados do amor …

Volto agora ao silêncio
ao eco perpétuo da cal branca nas paredes
d’ombreiras tíbias e de redes rotas dependuradas
ao véu tão pálido do vazio:
- enredos d’alma resignados
em apneia de sentidos
ausentes de ti.

Ontem, amado, ontem, se te não vi … morri!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 11/04/2008 08:02  Atualizado: 11/04/2008 08:02
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: suicidas declarados do amor …
Um poema extremamente triste, com palavras quase sufocantess, mas carregadinho da beleza e qualidade que já nos habituaste!

Um beijo enorme Mel

Enviado por Tópico
Pedro.Pinto
Publicado: 11/04/2008 12:44  Atualizado: 11/04/2008 12:44
Participativo
Usuário desde: 08/03/2007
Localidade: Leiria
Mensagens: 28
 Re: suicidas declarados do amor …
Simplesmente... lindo! É um poema em que me revejo por momentos.

Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 11/04/2008 12:57  Atualizado: 11/04/2008 13:28
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: suicidas declarados do amor …p/Mel de Carvalho
"Os amantes se amam cruelmente/e com se amarem tanto não se vêem./Um se beija no outro, refletido./Dois amantes que são? Dois inimigos./Amantes são meninos estragados/ pelo mimo de amar: e não percebem/quanto se pulverizam ao enlaçar-se,/e como o que era mundo volve a nada./Nada, ninguém.Amor, puro fantasma/que os passeia de leve, assim a cobra/se imprime na lembrança de seu trilho./E eles quedam mordidos para sempre./Deixaram de existir, mas o existido/ continua a doer eternamente."

Prezada Mel,

Este soneto branco, de Carlos Drummond de Andrade,chamado Destruição, consta da lista dos poemas que julgo dos mais belos da língua portuguesa. Não é tão conhecido, como outras obras deste magnífico brasileiro, nascido na modesta Itabira, nas Minas
Gerais. Isto que você publicou hoje, 11-04, não fica a dever em nada a Drummond. Obrigado, Poeta do Amor, por mais esta jóia que você nos oferece.

Abraço fraterno,

Júlio

Enviado por Tópico
Liliana Jardim
Publicado: 11/04/2008 14:58  Atualizado: 11/04/2008 14:58
Usuário desde: 08/10/2007
Localidade: Caniço-Madeira
Mensagens: 4412
 Re: suicidas declarados do amor …
De facto muito triste mas lindo, amiga.

Beijinhos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2008 15:11  Atualizado: 11/04/2008 15:11
 Re: suicidas declarados do amor …
Que ontem heim poetisa!
E toda essa dor levamos com a passagem da morte, nas impressões digitais desse amor que sempre estará identificada em nossa alma e nas vidas futuras, são os laços eternos que nos envolve e nos acompanham pela senda redentora.

Amei ler vc bjs

Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 11/04/2008 21:16  Atualizado: 11/04/2008 21:16
Colaborador
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa/Peniche
Mensagens: 1562
 Re: suicidas declarados do amor … (a tds os amigos)
Agradeço, reconhecida a cada um as vossas palavras que, e uma vez mais, são um lenitivo maior, uma mola que me impulsiona para que prossiga.

Bem hajam pelo tanto
Mel