Te sinto tão perto que chego a sangrar,
como se cada respiração fosse lâmina.
Teu olhar perfura minha alma nua,
teu silêncio rasga minha pele por dentro.
Amamos e nos despedaçamos ao mesmo tempo,
cada abraço negado é martelo no meu peito,
cada gesto teu é faca que gira, lenta e precisa,
cada palavra tua é ácido queimando veias.
Estou preso a ti, como cão acorrentado,
mas tu és vento, imaterial e cruel.
Não posso tocar, não posso possuir,
mas cada célula minha te sente e te implora.
Meu coração é trincheira de dores repetidas,
onde prazer e tormento coexistem,
onde desejo se mistura à destruição,
onde amar é sangrar mil vezes sem fim.
E ainda assim, meu apego me corrói:
te quero inteiro, ainda que me fendas,
te quero mesmo que me dilacere,
te quero mesmo que eu morra um pouco a cada olhar.
Amar-te é suicídio cotidiano,
um amor que corta, que consome, que destrói.
E, mesmo assim, sou prisioneiro desse veneno,
porque um amor de mil facadas
não escolhe coração — ele o devora.
Aqui jaz alguém que não pode ser metade.