Tarda o tempo na boca amordaçada,
Doce era o vinho vertido na taça,
O medo espreitava atrás da caraça,
Maior do que a campa, a laje endeusada.
Desumana, sem género nem raça,
Pela paixão cega assim foi tomada,
Mais do que amada, foi idolatrada,
Diz agora a alma de sua desgraça.
Depois, doente, sorrindo ao estertor,
Já velha e podre como o Adamastor,
A mão erguida comove o perdão…
Jurada às eras, a boca do cão,
Parecendo sorrir ao seu caixão,
Aos céus ganiu e prestou-lhe louvor.
24 de Maio de 2010