O soneto perfeito não existe;
Se existisse não seria perfeito,
Não seria obra de alma nem do peito,
Nem seria cousa alegre nem triste.
Perfeito assim não sei em que consiste;
Talvez só rima apurada a preceito,
Sem à forma dever qualquer defeito?
Perfeito é só um nada em que se insiste.
Mas tão perfeito existo eu num soneto,
Nasço e vivo e renasço sem morrer,
Mesmo aqui, no corpo deste terceto…
Que à noite, pouco antes de adormecer,
Quando tudo se sente mudo e quedo,
Fecho os olhos e sonho-me a escrever.
09 de Setembro de 2011
Viriato Samora