Nos portões do inferno uma placa reza,
Nem mais um passo, ó mortiça esperança!
Nada aqui nasce, se cria ou revesa,
Reza a placa na ponta duma lança.
Cérbero em três pescoços se entesa,
Molosso arfante, entre rosnos avança,
A inocência que o medo despreza,
Estaca-o ao afago da criança.
Aparece Hades dentre os seus arcanjos,
Indignado vocifera: “Enganaste-te!
Foi por mim torturada a morta já!
Dormiste em paz com os teus desarranjos,
Na infinita bondade desgraçaste-te,
Vem buscá-la, que não a quero cá.”
24 de Junho de 2022
Viriato Samora