Aqui, em que toda a rima se esgota,
O vácuo rouba ao nada o seu espaço,
Uma ave numa indefinida rota
desenha o sonho por onde não passo.
Aqui, na refrega contra a derrota,
No punhal onde termina o meu braço,
Grato ao encanto da luz mais remota,
No meu eu sozinho com o fracasso.
Sente-se a dor, como um prego celeste,
Dando à alma o tétano, dando-lhe a peste,
O poema morto embalado em descrença…
Nem um só verso sobreviva e reste,
Urna que foste o meu berço à nascença,
Olho-te, enfim, com ar de indiferença.
11 de Junho de 2023
Viriato Samora