Poemas, frases e mensagens de jersonbrito

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de jersonbrito

Natural de Porto Velho, Rondônia, tricolor de coração e escrevedor de versos.

NEVOEIRO

 
NEVOEIRO

No pântano triste ouço gritos ocultos
Mefítica bruma meu peito nauseia
Cadáveres rotos na lama, insepultos
Das fábulas restos um louco tateia

Esquálidos corpos, visagens e vultos
Intrépidas setas disparam na cheia
De oníricas chagas saudade, tumultos
Indômitos, zurzem e nada clareia

O cântico doce envolvido em fumaça
Em fúnebre choro transmuto, sem graça
O cândido embalo, teimoso, persigo

No pútrido campo de mágoas horrendas
Patético rito... Que rédeas! Que vendas!
Nostálgico, entrego-me a ti, meu castigo!
 
NEVOEIRO

CACHOEIRAS

 
CACHOEIRAS

Alucinado, em ti derramo sonhos.
Da tua pele o gosto deixa ardendo
a minha boca de prazer tremendo.
Olhares falam de um querer, risonhos.

Sob o calor dessa paixão, sozinhos
alados, vamos pelos céus voando.
Lubricidade brada, é voz, comando
aos incansáveis, juvenis carinhos.

Ao te tocar, a sede não contenho.
Dessa torrente o coração inundo.
No leito doce um éden te desenho.

Maravilhoso, amada, nosso mundo
tem cachoeiras quentes... Quanto engenho!
Em fantasias mergulhamos fundo...
 
CACHOEIRAS

ALARDES

 
ALARDES

Teus lábios purpúreos nos meus imagino
colados, famintos, ardendo em fogueira
enquanto de agrados me cobres faceira
fazendo adejar indomável menino.

Se bebo dos beijos o sumo termino
nos ares de um éden de brisa fagueira
deixando a malícia fluir sorrateira
nas largas entranhas do meu desatino.

Dominam-me as veias nervosas correntes
tomando, oprimindo meus gestos pudentes
até que revelo as vontades, princesa.

Meu bem, necessito que venhas, não tardes!
Não posso calar mais aqui os alardes,
domar essa chama imortal, sempre acesa...
 
ALARDES

FESTINS

 
FESTINS

A parca luz presente nos jardins
permite que perceba seus livores:
hortênsias, margaridas e jasmins
surradas pelo ocaso dos amores.

Como alucinações soam clarins
anunciando o fim das doces flores.
Motejam os algozes em festins
regados pela chuva de plangores.

Golpeiam-me afiados pedregais
abrindo muitas fendas doloridas
nos pés que as aflições não querem mais.

Latejam sem parar minhas feridas
porque já se aproximam os umbrais
das celas, lares d'almas iludidas.
 
FESTINS

TROVA 001

 
Quando as esperanças mortas
já não têm lugar no peito,
nos olhos rompem comportas,
a face tornando leito.
 
TROVA 001

AVES SANGUINÁRIAS

 
AVES SANGUINÁRIAS

Abutres sobrevoam, famulentos
Meu corpo lacerado, agonizante
Recendem desengano os ferimentos
Da vida sou despido a cada instante

Entregue, nem profiro mais lamentos
Somente é do estertor o som reinante
Não saboreio méis, alumbramentos
O cheiro do abandono é sufocante

Lamúrias tenho tantas... Ah, são várias!
Têm pressa aquelas aves sanguinárias
Está sacramentada a dura sorte

Verdades reprimidas vão comigo
Tu vais te arrepender desse castigo
Que me infligiste... Dou-te minha morte!
 
AVES SANGUINÁRIAS

BORBULHAS

 
BORBULHAS

Se os olhos me cercar a escuridão selvagem
Que traz aos dias meus, amada, tua ausência
Em busca de acalmar essa feroz carência
Descanso no frescor de deleitosa aragem

Soprada dos lençóis adocicada essência
Esculpe na retina insinuante imagem
Um anjo sedutor desnuda a vassalagem
Borbulha de saudade o sangue... Efervescência!

Sem ter as tuas mãos dizendo em mim ternuras
Enfrento a solidão a bordo de aventuras
Que embala nesta noite o rastro de perfume

Espero-te a sonhar o aconchegante abraço
Preciso me aquecer no especial regaço
Deitando no teu corpo alucinante ardume
 
BORBULHAS

O VELHO CASTIÇAL

 
O VELHO CASTIÇAL

Na gelidez da noite aterradora, parda
histórias de um amor que eterno parecia,
pedaços do que foi cumplicidade um dia
aquele castiçal enferrujado guarda.

Tristonho, o coração suspira e se acovarda,
à mesa enxerga luz, seus prantos alivia,
seu aconchego faz a tênue letargia,
permite-se sonhar, somente o fim retarda...

Pudesse dominar sofrida penitência
largando no caminho esta esperança morta
não ninaria em vão qualquer reminiscência.

Incorrigível sou, mesmo se a dor me corta
padeço ao te esperar, lancina tua ausência,
mas olho para trás e tu fechaste a porta...
 
O VELHO CASTIÇAL

NAS ALTURAS

 
NAS ALTURAS

Indóceis, sequiosas criaturas,
nas asas de adoráveis brincadeiras,
aos beijos, derrubamos as fronteiras,
galgando da paixão lindas alturas.

Fragrâncias nos seduzem sorrateiras,
embalam fascinantes travessuras
embebem corações, trazem branduras,
amimam almas delas passageiras.

A brisa do desejo é sopro morno
deitando sobre nós toques suaves,
aos rostos dando vívido contorno.

O tempo infelizmente não governo,
mas se tivesse dele, amor, as chaves
faria esse momento nosso eterno.
 
NAS ALTURAS

LÁBIOS CAMINHEIROS

 
LÁBIOS CAMINHEIROS

Na tua pele solto a fera audaz
tocando devagar a maciez
de um corpo que transpira calidez,
aguça imaginários, fogo traz.

Em ti meu coração se satisfaz,
embevecido, perde a lucidez,
levita, permitindo-se ebriez
porque te resistir é incapaz.

Bebendo da lascívia, teu licor
os lábios caminheiros longe vão,
felizes, encharcados de dulçor.

Dos olhos sorridentes o clarão
confessa a imensidade desse amor
regado por desejo e perdição.
 
LÁBIOS CAMINHEIROS

BEIJOS PERDIDOS

 
BEIJOS PERDIDOS

Da solidão a gelidez abraça
Há nos lençóis um cheiro bom, reclama
Meros vestígios têm o quarto, a cama
Daquele amor descomunal... Desgraça!

O coração rói como infame traça
Bruta saudade, é lacerante o drama
Desesperado, quanto sal derrama
Chora, impotente... Tudo se estilhaça!

Da lua o brilho corta mais seu peito
Porque repleto de fotografias
Reminiscências trazem dor enorme

A noite é longa! Inane, vê sem jeito
O sofrimento, atrozes agonias
Beijos perdidos mima até que dorme...
 
BEIJOS PERDIDOS

CORTEJO

 
CORTEJO

Na chuva de tristura, meus plangores
Há féretros de sonhos entupidos
Orvalhos, leitos desses destruídos
Jardins onde fulgiam lindas flores

Entre soluços sorvo féis, licores
Que o coração laceram... Vis, bandidos!
Fantasmas atormentam meus sentidos
No sal que escorre em mim quantos pavores!

Encharco meus lençóis de nostalgia
Perdido, nas memórias perambulo
Sem que perceba raia um novo dia

As lágrimas prosseguem seu cortejo
A dor do desalento, insone, engulo
Porque não desvanece meu desejo
 
CORTEJO

SANGRIAS

 
SANGRIAS

Olhando para as várias cicatrizes
Ao coração viagens proporciono
Rememorando os passos infelizes
Sangrias infernais de um longo outono

Sob o cinzel que fere os aprendizes
Penei qual reles pedra de carbono
Sofri mutilações, mas as raízes
Mantive alimentadas, são meu trono

Sarado, agora sei que os duros cortes
Em minha carne, embora doloridos
Forjaram pés guerreiros, braços fortes

Uma verdade que não se refuta:
Nós somos lapidados se pungidos
Crescendo mais e mais a cada luta
 
SANGRIAS

PEREGRINO

 
PEREGRINO

Do meu sorriso o trágico destino
assombra quando a noite vem, trevosa,
falar-me da algidez abominosa
que abraça o peito flébil, peregrino.

Doeu demais e, sendo repentino,
o duro adeus me abriu a sinuosa
estrada onde, em viagem vagarosa,
bradejo mergulhado em desatino.

Na imensidão das mágoas falta vida
aos olhos noutros tempos radiantes
por ti numa loucura desmedida.

Dos lábios tomou conta uma tristura
porque dos teus carentes, suplicantes
só sentem o sabor desta amargura...
 
PEREGRINO

LEMBRANÇAS FOSCAS

 
LEMBRANÇAS FOSCAS

A vestimenta negra destes dias
Estampa roseirais desencantados
É trágico o destino dos sonhados
Finais que acalentei quando sorrias

Mais nada que ilusões, vãs alegrias
Os meus desejos jazem fulminados
Nas águas de plangores dominados
Pelas lembranças foscas, fugidias

À sombra de infortúnios torturantes
O coração se esvai, sucumbe aos poucos
O desamor é tão duro castigo...

Enrosco-me em espinhos vergastantes
Sofrendo desse mal que aflige loucos
Em cada vil delírio estás comigo
 
LEMBRANÇAS FOSCAS

MATANÇAS

 
MATANÇAS

Tento em vão afastar as lembranças
Abrandar a saudade ferrenha
Mas o peito teimoso se empenha
Em seguir nas sofridas andanças

Coração sente o gume de lanças
Dos suplícios medonhos desdenha
Ilusões incontáveis desenha
Mesmo sendo um altar de matanças

Enxurradas escorrem no rosto
É de amarga tristura esse gosto
Piedade de mim não tiveste

Tantas súplicas tolas endosso
Arrancar gostaria e não posso
Tudo aquilo que um dia me deste
 
MATANÇAS

CONSPIRAÇÕES

 
CONSPIRAÇÕES

Trancado no conforto de conceitos,
alheio a rigorosas tempestades,
cultua as impolutas divindades.
Imensa devoção têm seus eleitos!

Repele com fervor o que despeitos
reputa em suas íntimas verdades.
Enxerga profusão de atrocidades
se de forças estranhas sente efeitos.

Das égides rachadas dependente
recolhe-se no colo de pavores.
Dali não sai, resiste sua mente.

Por todo lado vê conspiradores.
Revolta-se, gritando, inconsequente.
Além daquela bolha há tantas cores...
 
CONSPIRAÇÕES

PASSOS FALHOS

 
PASSOS FALHOS

Preciso acalantar meu coração aflito
porque não posso mais esparramar frangalhos,
mas como descobrir para um alívio atalhos
se em minha frente cai esse negror maldito?

Completamente tonto, angústias regurgito
entregue ao estupor, sentindo os passos falhos.
Morrendo, a transvazar pelos imensos talhos
temores infernais dentro de mim visito.

Severa prostração se nutre dos lamentos
crescendo a cada vez que as insistentes dores
espalha minha voz nesta vereda escura.

Apático refém desses castigos lentos
percebo o quanto têm os sonhos seus humores
imerso em solidão, sempre mordaz tortura...
 
PASSOS FALHOS

NOTÍVAGO

 
NOTÍVAGO

Saiu pelas vielas da saudade
desnorteado feito um cão sem dono,
pungia a solidão, não tinha sono,
cegado pelo véu da escuridade.

Ao fulminar sensato juramento
provou das ilusões o forte gosto
nas lágrimas sentidas que no rosto
desciam como enxurro violento.

Embebedado pelo sal das dores,
prostrou-se sob a noite apavorante,
ferido por silêncio penetrante,
cercado por delírios opressores.

Por mais que novos rumos se prometa,
murmúrios leva ao colo da sarjeta.
 
NOTÍVAGO

ASSIMETRIAS

 
ASSIMETRIAS

O coração é solo onde germina
apenas a semente nele posta,
dessarte da colheita não desgosta
o que planta empatia por rotina.

Na vida nada perde quem se inclina
ao semelhante quando a dor imposta
não diz respeito a si, mas noutro encosta
pungente qual mordida viperina.

Do pregador do bem é leve o fardo
porquanto ele conserva, felizardo,
em seu comportamento esse dever.

É salutar ao ser humano o senso
de em sua caminhada estar propenso
da forma mais sublime a humano ser...
 
ASSIMETRIAS

Jerson Brito